sexta-feira, 18 de abril de 2014

COSMOS 02 - Uma Odisseia no Espaço-Tempo - Neil deGrasse Tyson

Esta é uma história sobre você e eu, e o seu cão. Houve uma época, não muito tempo atrás antes dos cães. Eles não existiam. Agora há cães grandes, pequenos, de colo, de guarda, de caça. Todo tipo de cão que você possa querer. Como isso aconteceu?
E não são só cães. De onde todos os diferentes tipos de criaturas vieram?
A resposta é um poder transformador que pode parecer algo saído direto de um mito ou conto de fadas, mas que não é tal coisa.
Vamos voltar 30.000 anos até um tempo antes dos cães, quando nossos ancestrais viviam no inverno sem fim da última era glacial. Nossos ancestrais eram nômades vivendo em pequenos grupos. Eles viviam sob as estrelas. O céu era seu livro de historia, calendário, um manual de instruções para a vida. Eles os diziam quando as friagens viriam, quando os grãos silvestres iriam amadurecer, quando as manadas de caribus e bisões estariam em marcha. Sua noção de lar era a própria Terra. Mas eles viviam com medo de outras criaturas famintas, os leões-da-montanha e os ursos que competiam com eles pela mesma caça e os lobos que ameaçam carregar e devorar os mais vulneráveis entre eles. Todos os lobos querem o osso, mas a maioria está muito assustada para chegar perto o bastante. Seu medo se deve a altos níveis de hormônios do estresse em seu sangue.
É uma questão de sobrevivência.
Pois chegar muito perto de humanos pode ser fatal.
Mas uns poucos lobos graças a variações naturais têm níveis mais baixos destes hormônios. Isso os faz ter menos medo dos humanos. Este lobo descobriu o que um ramo dos seus ancestrais deduziram cerca de 15.000 anos atrás, uma excelente tática de sobrevivência; a domesticação dos humanos.
Deixe os humanos caçarem, não os ameace, e eles lhe deixarão pilhar o seu lixo. Você vai comer mais regularmente, Vai deixar uma prole maior, e esta prole herdará esta disposição. Esta seleção pela mansidão seria reforçada com cada geração até que aquela linhagem de lobos evoluísse para cães.



Você pode chamar isso de "sobrevivência do mais amigável." E como agora, este foi um bom "trato" para os seres humanos, também. Os cães de limpeza não eram apenas  um pelotão de saneamento. Eles melhoravam a segurança. À medida que esta parceria entre espécies continuava, a aparência dos cães mudou também. Graciosidade tornou-se uma vantagem seletiva. Quanto mais adorável você era, melhores chances você tinha de viver e passar seus genes para outra geração.
O que começou como uma aliança de conveniência se tornou uma amizade que ficou mais forte com o tempo. Para ver o que acontece a seguir, vamos deixar nossos ancestrais distantes de cerca de 20.000 anos atrás para visitar o passado mais recente durante um intervalo na Era do Gelo.
Esta pausa no clima começa uma revolução. Em vez de vagar, as pessoas estão se estabelecendo. Há algo de novo no mundo... aldeias. As pessoas ainda caçam e coletam, mas agora eles também produzem alimentos e roupas... agricultura.
Os lobos têm trocado sua liberdade por refeições constantes. Eles desistiram do direito de escolher um par. Agora os humanos escolhem por eles. Eles matam consistentemente os cães que não podem ser treinadas; os que mordem a mão que os alimenta. E cruzam os cães que os agradam. Eles cuidam dos cães que cumprem com seus deveres... caça, pastoreio, guarda, transporte, e fazer-lhes companhia.
De cada ninhada, os humanos escolhem os filhotes de que gostam mais. Através das gerações, os cães evoluem. Este tipo de evolução se chama "seleção artificial" ou "criação". Transformar lobos em cães foi a primeira vez em que nós, humanos, tomamos a evolução em nossas mãos. E nós fazemos isto desde então para moldar todas as plantas e animais dos quais dependemos.

Em um instante de tempo cósmico, apenas 15.000 ou 20.000 anos, transformamos lobos cinzentos em todas as raças de cães que amamos hoje. Pense nisso. Cada raça de cão que você já viu foi esculpida por mãos humanas. Muitos dos nossos melhores amigos as raças mais populares foram criadas somente nos últimos séculos. O incrível poder da evolução transformou o lobo voraz no fiel pastor, que protege o rebanho e afugenta o lobo. A seleção artificial transformou o lobo no pastor, e as ervas silvestres em trigo e milho.
De fato, quase todas as plantas e animais que comemos hoje foram criados a partir de um ancestral selvagem menos comestível. Se a seleção artificial pode causar tão profundas alterações em apenas 10.000 ou 15.000 anos, o que a seleção natural pode fazer  agindo por bilhões de anos?
A resposta é toda a beleza e diversidade da vida. Como isso funciona? Nossa Nave da Imaginação pode nos levar a qualquer lugar no espaço e no tempo, até mesmo ao microcosmos oculto, onde um tipo de vida pode ser transformado em outro.
Venha comigo.
Pode não parecer, mas nós temos vivido em uma era do gelo pelos últimos dois milhões de anos. Só acontece de estarmos em um dos longos intervalos.
Pela maior parte destes dois milhões de anos, o clima foi frio e seco. A calota de gelo polar norte se estendia muito mais ao sul do que hoje. Em um desses longos períodos glaciais frios quando o gelo marinho de inverno se estendia desde o Pólo Norte até onde hoje é Los Angeles, grandes ursos vagavam pelas vastidões geladas da Irlanda.






Esta pode parecer uma ursa comum, mas algo extraordinário está acontecendo dentro dela. Algo que vai dar origem a uma nova espécie. Para ver isto, precisaremos descer até uma escala muito menor, até o nível celular, para que possamos explorar o aparelho reprodutivo da ursa.



Vamos seguir a artéria subclávia através do coração. Quase lá. Esses são alguns de seus óvulos. Para ver o que está acontecendo em um deles, teremos que ficar ainda menores. Vamos encolher até o nível molecular. Nossa Nave da Imaginação agora é tão pequena,que caberiam um milhão delas em um grão de areia.



Vê aqueles caras andando por aqueles cabos? são proteínas chamadas cinesinas.
Estas cinesinas são parte da equipe de transporte que está ocupada levando cargas através célula. Como parecem alienígenas. E ainda assim essas criaturinhas e seres como elas são uma parte de toda célula viva, inclusive as suas. Se a vida tem um santuário,é aqui no núcleo que contém nosso DNA a antiga escritura de nosso código genético. E escrita em uma linguagem que toda vida pode ler. DNA é uma molécula em forma de uma longa escada torcida ou dupla hélice.



Os degraus desta escada são feitos de quatro diferentes tipos de moléculas menores.
Estas são as letras do alfabeto genético. Arranjos particulares destas letras soletram as instruções para todos os seres vivos, lhes dizendo como crescer, mover-se, digerir, sentir o ambiente, curar-se, reproduzir. A dupla hélice de DNA é uma máquina molecular com cerca de 100 bilhões de partes chamadas "átomos."



Há tantos átomos em uma única molécula de nosso DNA quanto há estrelas em uma galáxia típica. O mesmo se aplica aos cães e ursos e toda coisa viva. Somos, cada um de nós, um pequeno universo. A mensagem de DNA entregue de célula para célula e de geração para geração é copiada com extremo cuidado. O nascer de uma nova molécula de DNA começa quando uma proteína abridora separa as duas fitas da dupla hélice, quebrando os degraus. Dentro do líquido do núcleo, as letras moleculares do código genético flutuam livres. Cada faixa da hélice copia seu parceiro perdido, resultando em duas moléculas de DNA idênticas. É assim que a vida reproduz e transmite os genes de uma geração para a próxima.



Quando uma célula se divide em duas, cada uma leva com ela uma cópia completa do DNA. Uma proteína especializada faz uma revisão para assegurar que só as letras corretas são aceitas para que o DNA seja precisamente copiado. Mas ninguém é perfeito. Às vezes, um erro passa pela revisão, causando uma pequena mudança nas instruções genéticas uma mutação ocorreu no óvulo da ursa. Uma obra do acaso tão pequena pode ter conseqüências em uma escala muito maior.



Essa mutação alterou o gene que controla a cor do pelo. Afetando a produção do pigmento escuro no pelo da prole da ursa. A maioria das mutações é inofensiva. Algumas são mortais. Mas umas poucas, por puro acaso, podem dar a um organismo uma vantagem crítica na competição. Um ano se passou. Nossa ursa agora é mãe. E como resultado daquela mutação, um dos dois filhotes nasceu com uma pelagem branca. Quando os filhotes tiverem idade para se aventurar sozinhos, qual urso será melhor em se esgueirar até uma presa despreocupada?





O urso pardo pode ser visto na neve a mais de um quilômetro. O urso branco prospera e transmite seu conjunto particular de genes. Isto acontece repetidamente. Geração após geração, o gene do pelo branco se espalha por toda a população de ursos árticos. O gene do pelo escuro perde na disputa pela sobrevivência. Mutações são aleatórias e acontecem o tempo todo. Mas a natureza recompensa os que aumentam a chance de sobrevivência. Ela seleciona naturalmente os seres vivos melhores adaptados para sobreviver. E esta seleção é o oposto de aleatória. As duas populações de ursos se separaram, e por milhares de anos, evoluíram outras características que as afastou. Tornaram-se espécies diferentes.
Foi isso que Charles Darwin quis dizer com "a origem das espécies." Um urso individual não evolui; a população de ursos evolui ao longo de gerações. Se o gelo do ártico continuar a diminuir por causa do aquecimento global, os ursos polares podem se extinguir. Serão substituídos pelos ursos pardos, melhor adaptados ao hoje descongelado ambiente. É uma história diferente daquela dos cães. Ninguém guiou estas mudanças. Em vez disso, a própria natureza as seleciona. Isto é evolução por seleção natural, a ideia mais revolucionária na história da ciência. Darwin apresentou evidências para esta ideia em 1859. O rebuliço que isso causou ainda não cessou.
Por que?
Todos entendemos a ponta de desconforto na noção de que dividimos um ancestral comum com os símios. Ninguém lhe constrange mais do que um parente. Nossos mais próximos, os chimpanzés, comumente se comportam mal em público. Há uma necessidade humana compreensível de se distanciar deles. Uma premissa central da crença tradicional é a de que fomos criados separadamente dos outros animais. É fácil ver porque esta ideia "pegou." Ela nos faz nos sentir... especiais. Mas e o nosso parentesco com as árvores?
Como faz você se sentir?
Certo, eis um segmento do DNA do carvalho. Pense nele como um código de barras.
As instruções escritas no código da vida dizem à árvore como metabolizar açúcar. Agora vamos compará-lo com uma seção do meu DNA. O DNA não mente. Esta árvore e eu somos primos bem distantes. E não são só as árvores. Se você voltar bastante, vai ver que dividimos um ancestral em comum com...
a borboleta... lobo... cogumelo... tubarão... bactérias... pardal.



Que família!
Outras partes do código variam de espécie para espécie. É isso que faz a diferença entre uma coruja e um polvo. A menos que você tenha um gêmeo idêntico, não há ninguém no universo com o mesmo DNA que você. Dentro de outras espécies, as diferenças genéticas geram a matéria-prima para a seleção natural. A natureza seleciona quais genes sobrevivem e se multiplicam. Com relação às instruções genéticas para as funções mais básicas da vida como digerir açúcares, nós e outras espécies somos quase idênticos. É porque estas funções são tão básicas à vida, que evoluíram antes que as várias formas de vida divergissem entre si.
Esta é a nossa Árvore da Vida.



A ciência nos possibilitou construir esta árvore genealógica de todas as espécies de vida na Terra. Parentes próximos ocupam o mesmo ramo da árvore, enquanto os mais distantes estão mais longe. Cada ponta é uma espécie viva. E o tronco representa os ancestrais comuns de toda a vida na Terra. A matéria da vida é tão maleável que desde que começou, a natureza a moldou em uma enorme variedade de formas 10.000 vezes mais do que podemos mostrar aqui. Biólogos classificaram meio milhão de tipos diferentes só entre besouros. Sem falar na inúmera variedade de bactérias.
Há milhões de espécies vivas de plantas e animais, a maioria ainda desconhecida.
Pense nisso, ainda não encontramos a maioria das formas de vida terrestre. Isso é o tanto de vida que há só neste pequeno planeta. A Árvore da Vida estende seus galhos em todas as direções, encontrar e explorando o que funcionar, criando novos ambientes e oportunidades para novas formas. A Árvore da Vida tem três bilhões e meio de anos. Isso é muito tempo para desenvolver um repertório impressionante de truques.  A evolução pode disfarçar um animal como uma planta levando milhares de gerações para inventar um traje elaborado que leva os predadores a procurar em outro lugar por algo para comer. Ou pode disfarçar uma planta como um animal, evoluindo flores com a aparência de uma vespa o jeito da orquídea de levar vespas reais a polinizá-la.  Este é o incrível poder transformador da seleção natural. Entre os densos membros emaranhados da grande Árvore da Vida você está aqui.
Um ramo pequeno entre incontáveis milhões. A ciência revela que toda a vida na Terra é uma só. Darwin descobriu o real mecanismo da evolução. A crença prevalecente era de que a complexidade e variedade de vida deveria ser o trabalho de um projetista inteligente, que criou cada uma destas milhões de espécies separadamente. "Os seres vivos são muito complexos", dizia-se, "para ser o resultado de evolução não guiada".  Veja o olho humano, uma obra-prima de complexidade requer uma córnea, íris, cristalino, retina, nervos ópticos, músculos, e a elaborada rede neural do cérebro
para interpretar imagens. É mais complexo do que qualquer dispositivo jamais construído pela inteligência humana. Portanto, argumentava-se, o olho humano não podia ser o resultado da evolução sem sentido para saber se isso é verdade, precisamos de viajar através do tempo. Portanto, argumentava-se, o olho humano não podia ser o resultado de evolução sem propósito. Para saber se isso é verdade, precisamos viajar pelo tempo para um mundo antes de haver olhos para ver.



No início, a vida era cega. É assim que nosso mundo se parecia quatro bilhões de anos atrás, antes de haver quaisquer olhos para ver.
Até algumas centenas de milhões de anos passarem, e então, um dia, houve um microscópico erro de cópia no DNA de uma bactéria. Esta mutação aleatória deu a esse micróbio uma molécula de proteína que absorvia luz solar. Quer saber como o mundo se parecia para uma bactéria sensível à luz ? Dê uma olhada no lado direito da tela.



Mutações continuaram a ocorrer aleatoriamente, como sempre fazem em qualquer população de seres vivos. Outra mutação fez uma bactéria escura fugir da luz intensa.
O que está acontecendo aqui?
Noite e dia. Essas bactérias que podiam distinguir claro e escuro tinha uma vantagem decisiva sobre os que não podiam. Porquê? Porque o dia traz luz ultravioleta que danifica o DNA. As bactérias sensíveis fugiam da luz intensa para trocar seu DNA com segurança no escuro. Elas sobreviveram em maior número do que as bactérias que ficavam na superfície. Ao longo do tempo, as proteínas sensíveis à luz se concentraram em um ponto de pigmento no mais avançado organismo unicelular.
Isto tornou possível achar a luz, uma vantagem esmagadora para um organismo que colhia luz solar para se alimentar. Aqui está a visão de mundo de uma planária.
Este organismo multicelular evoluiu uma covinha na mancha de pigmento. A depressão em forma de tigela permitia que o animal distinguisse a luz da sombra para discernir grosseiramente objetos em sua vizinhança, incluindo aqueles para comer e aquelas que podiam comê-lo uma tremenda vantagem. Mais tarde, as coisas tornaram-se mais claras. A covinha aprofundou-se e evoluiu para uma "bolha" com uma pequena abertura.



Por milhares de gerações, a seleção natural foi lentamente esculpindo o olho.
A abertura contraiu-se até um buraco coberto por uma membrana protetora transparente. Só um pouco de luz poderia entrar no buraco, mas foi o suficiente para pintar uma imagem fraca na superfície interna sensível do olho. Isto aumentou o foco.
Uma abertura maior teria deixado entrar mais luz, fazendo uma imagem mais brilhante, mas fora de foco. Este desenvolvimento lançou o equivalente visual de uma corrida armamentista. A competição precisava manter-se para sobreviver. Mas, então, um magnífico novo recurso do olho evoluiu, uma lente que fornecia brilho e nitidez.
Nos olhos de peixe primitivo, o gel transparente perto do orifício formou uma lente.
Ao mesmo tempo, o buraco aumentou para deixar entrar mais luz. Os peixes podiam ver em alta definição, tanto perto quanto longe. E depois algo terrível aconteceu.
Já notou que um canudo em um copo de água parece torto na superfície da água?
É porque a luz se dobra ao passar de um meio para outro, como da água para o ar.
Nossos olhos evoluíram primeiro para ver na água. O líquido aquoso naqueles olhos eliminava a distorção desse efeito de dobra. Mas para os animais terrestres, a luz leva imagens do ar seco aos seus olhos ainda aquosos. Isso dobra os raios de luz, causando todos os tipos de distorções. Quando nossos ancestrais anfíbios saíram da água para a terra, seus olhos, evoluídos para ver na água, eram ruins para ver no ar.
Nossa visão nunca foi tão boa desde então. Gostamos de pensar em nossos olhos como obras perfeitas, mas 375 milhões de anos depois, ainda não podemos ver coisas bem na frente de nossos narizes ou discernir detalhes na escuridão próxima do jeito que peixes podem.



Quando saímos da água, porque a natureza não começou do zero e nos evoluiu um novo conjunto de olhos otimizados para ver no ar? A natureza não funciona assim. A evolução remodela estruturas existentes ao longo de gerações, adaptando-as com pequenas mudanças. Ele não pode voltar para a prancheta e começar do zero. Em todas as fases de sua desenvolvimento, o olho em evolução funcionou bem o bastante para fornecer uma vantagem seletiva para a sobrevivência. E entre os animais vivos hoje, encontramos olhos em todas estas etapas do desenvolvimento. E todos eles funcionam. A complexidade das olho humano não é nenhum desafio para a evolução pela seleção natural. Na verdade, o olho e toda a biologia não faz sentido sem a evolução. Alguns afirmam que a evolução é apenas uma teoria, como se fosse apenas uma opinião.



A teoria da evolução, como a teoria da gravidade, é um fato científico. A evolução realmente aconteceu. Aceitar o nosso parentesco com toda a vida na Terra não é só ciência sólida. No meu ponto de vista, também é uma experiência espiritual elevadora.
Porque a evolução é cega, não pode antecipar ou se adaptar a eventos catastróficos.
A Árvore da Vida tem alguns galhos quebrados. Muitos deles foram cortados nas cinco maiores catástrofes que a vida já conheceu. Em algum lugar, há um memorial à multidão de espécies perdidas, os Salões de Extinção. Venha comigo.



Bem-vindo aos Salões da Extinção. Um monumento aos galhos quebrados da Árvore da Vida. Para cada uma das milhões de espécies vivas hoje, talvez mil outras tenham sido perdidas. A maioria delas morreu na competição diária com outras formas de vida. Mas muitas deles foram varridos em grandes cataclismos que assolaram o planeta. Nos últimos 500 milhões de anos isso já aconteceu cinco vezes. Cinco extinções em massa que devastaram a vida na Terra. A pior de todas aconteceu há cerca de 250 milhões de anos, no final de um período conhecido como o Permiano.
Trilobites eram animais blindados que caçavam em grandes manadas através do fundo do mar. Estiveram entre os primeiros animais a evoluir olhos formadores de imagens. Trilobites tiveram uma "vida" longa, cerca de 270 milhões de anos. A Terra já foi o planeta dos trilobites. Mas agora todos eles se foram, extintos. Os últimos foram varridos do palco da vida juntamente com incontáveis outras espécies em um incomparável desastre ambiental. O apocalipse começou no que hoje é a Sibéria, com erupções vulcânicas em uma escala diferente de tudo experimentado pelos humanos.
A Terra era muito diferente, com um único supercontinente e um grande oceano. Inundações implacáveis de lava ardente cobriram uma área maior que a Europa Ocidental. As erupções pulsantes ocorreram por centenas de milhares de anos.
A rocha derretida incendiou depósitos de carvão e contaminou o ar com dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa. Isto aqueceu a Terra e parou as correntes oceânicas de circulação. Bactérias nocivas floresceram, mas quase todo o resto nos mares morreu. As águas estagnadas arrotaram sulfeto de hidrogênio letal no ar, que sufocou a maioria dos animais terrestres. Nove em cada dez espécies no planeta foram extintas. Chamamos isto de... A Grande Morte.

A vida na Terra chegou tão perto de ser dizimada que levou mais de 10 milhões  de anos para se recuperar. Mas as novas formas de vida lentamente evoluíram para encher as lacunas deixadas pelo holocausto Permiano. Entre os maiores vencedores estavam os dinossauros. Agora, a Terra era o seu planeta. Seu reinado continuou por mais de 150 milhões de anos. Até que, também, desabou em outra extinção em massa. A vida na Terra tem tomado muitas surras através dos tempos. E ainda assim está aqui. A tenacidade da vida é atordoante. Continuamos a achando onde ninguém pensou que poderia estar. Esse corredor sem nome?



Isso é para outro dia.
Eu sei de um animal que pode viver em água fervente ou no gelo sólido. pode ficar 10 anos sem uma gota de água. pode viajar nu no vácuo frio e radiação intensa do espaço e vai voltar ileso. O tardígrado, ou urso d'água. Ele está em casa no topo das montanhas mais altas e nas mais profundas fossas marinhas. E em nosso próprio quintal, onde vivem entre o musgo em números incontáveis. Você provavelmente nunca os notou porque são muito pequenos. Como a ponta de uma agulha. Mas eles são durões. Os tardígrados sobreviveram a todas as cinco extinções em massa. Eles estão no negócio há meio bilhão de anos. Costumávamos pensar que a vida era mimada, que só se fixaria onde estava nem muito quente, nem muito frio, nem muito escuro ou salgado ou ácido ou radioativo. E não esqueça, sempre acrescente água.
Estávamos errados. Como o resistente tardígrado demonstra, a vida pode suportar condições que significariam morte certa para nós, seres humanos. Mas as diferenças entre nós e a vida encontrada nos mais extremos ambientes do nosso planeta são só variações de um mesmo tema, dialetos de uma única linguagem. O código genético da vida na Terra. Mas como seria a vida em outros mundos? Mundos com uma história química e evolução totalmente diferentes do nosso planeta? Há um mundo distante aonde quero lhe levar - um mundo muito diferente do nosso, mas que pode ter vida.
E se tiver, promete ser diferente de tudo já visto antes. Nuvens e névoa cobrem totalmente a superfície de Titã, a lua gigante de Saturno.



Titã me lembra um pouco de casa. Como a Terra, tem uma atmosfera primariamente de nitrogênio.Mas é quatro vezes mais densa. O ar de Titã não tem oxigênio. É bem mais frio que qualquer lugar da Terra. Mas ainda assim... Eu quero ir lá. Nós temos que descer através de umas centenas de quilômetros de névoa antes de poder ver a superfície. Mas escondido ali há uma paisagem estranhamente familiar.



Titã é o único outro mundo no sistema solar onde chove. Ele tem rios e praias. Titã tem centenas de lagos. Um deles maior do que o Lake Superior na América do Norte. Vapor subindo dos lagos se condensa e cai de novo como chuva. A chuva alimenta rios, que escavam vales na paisagem, como na Terra. Mas com uma grande diferença. Em Titã, as chuvas e os mares não são de água, mas de metano e etano.
Na Terra, essas moléculas formam gás natural. No gélido Titã, eles são líquidos. Titã tem muita água, mas toda ela congelada, dura como pedra. De fato, a paisagem e montanhas são feitas principalmente de gelo de água. A centenas de graus abaixo de zero, Titã é frio demais para a água derreter. Astrobiólogos desde Carl Sagan imaginaram se a vida poderia nadar nos lagos de hidrocarbonetos de Titã. A base química para tal vida teria que ser inteiramente diferente do que conhecemos. Toda a vida na Terra depende de água líquida. A superfície de Titã não tem nenhuma. Mas podemos imaginar outros tipos de vida. Pode haver criaturas que inalem hidrogênio em vez de oxigênio. E exalem metano em vez de dióxido de carbono. Podem usar acetileno em vez de açúcar como fonte de energia. Como podemos saber se estas criaturas mantêm um império oculto embaixo das ondas oleosas? Estamos mergulhando no Mar de Kraken, o nome do mítico monstro marinho nórdico. Mesmo que haja um desses aí embaixo, provavelmente não podemos ver. É muito escuro.
Se você extraísse todo o petróleo e gás natural da Terra, seria só uma pequena fração das reservas de Titã. Vamos acender umas luzes.



Estamos 200 metros abaixo da superfície. Você viu alguma coisa? Bem ali, naquela abertura. Talvez tenha sido minha imaginação Acho que vamos ter que voltar se quisermos ter certeza. Há uma última história que quero contar. E é a maior história que a ciência já contou. É a história da vida em nosso mundo. Bem vindo à Terra de 4 bilhões de anos atrás.



Este era nosso planeta antes da vida. Ninguém sabe como a vida começou. A maioria das evidências daquele tempo foi destruída por impactos e erosão. A ciência opera na fronteira entre conhecimento e ignorância não temos medo de admitir. Não há vergonha nisso. A única vergonha é achar que temos todas as respostas. Talvez alguém assistindo isto seja o primeiro a a resolver o mistério de como surgiu a vida na Terra. A evidência dos micróbios atuais sugere que seus primeiros ancestrais preferiam altas temperaturas. A vida na Terra pode ter surgido na água quente ao redor de chaminés vulcânicas submersas Na série Cosmos original, de Carl Sagan, ele traçou a linha contínua que se estende diretamente dos organismos unicelulares de quase 4 bilhões de anos atrás... até você.
4 bilhões de anos em 40 segundos. De criaturas que ainda não distinguiam o dia da noite a seres que estão explorando o cosmos. Estas são algumas das coisas que as moléculas fazem com 4 bilhões de anos de evolução.

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