quinta-feira, 17 de abril de 2014

COSMOS 01 - Uma Odisseia no Espaço-Tempo - Neil deGrasse Tyson

Algumas poucas palavras apenas:
Começou a nova série Cosmos!
E para quem não tem tempo de assistir o programa ou não conhece, vou postar em meu blog os EPs por escrito! Se prepare, pois a viagem é mais do que exitante! ;)

O cosmos, é tudo o que existe, existiu e existirá.

Venha comigo.

Uma geração atrás, o astrônomo Carl Sagan esteve aqui e levou milhões de nós numa grande aventura: a exploração do universo revelado pela ciência.
Chegou a hora de ir de novo.
Esta jornada nos levará da menor casa decimal ao infinito. Do início dos tempos ao futuro distante. Vamos explorar galáxias, sóis e mundos. Navegar nas ondas de gravidade do espaço-tempo. Encontrar seres que vivem no fogo e no gelo. Explorar os planetas de estrelas que nunca morrem. Descobrir átomos tão grandes quanto sóis e universos menores do que átomos.



"Cosmos" é também uma história sobre nós. É uma saga de bandos nômades de caçador-coletores que conseguiram chegar às estrelas. Uma aventura com vários heróis. Para fazer esta jornada, precisamos de imaginação. Mas só imaginação não é o bastante porque a realidade da natureza é muito mais surpreendente do que qualquer coisa imaginável.

Esta aventura só é possível porque gerações de pesquisadores seguem severamente um conjunto de regras simples: teste ideias através de experimentos e observações, desenvolva as ideias que passarem o teste, rejeite as que falham, siga as evidências aonde elas levarem e questione tudo.

Aceite esses termos e o cosmos é seu.
Agora, venham comigo.



EPISÓDIO 1: "DE PÉ NA VIA LÁCTEA"

Nesta nave da imaginação livres das correntes do espaço e do tempo nós podemos ir a qualquer lugar.

TERRA

Vamos sair da Terra, o único lar que conhecemos para ir aos confins do cosmos. Nosso vizinho mais próximo é a Lua. Ela não tem céu, nem oceano, nem vida. Só as cicatrizes de impactos cósmicos. A nossa estrela dá poder ao vento e às ondas e toda a vida na superfície do nosso mundo.



O Sol tem todos os mundos do Sistema Solar em seu abraço gravitacional, a começar por Mercúrio, e a nublada Vênus onde um rápido efeito estufa transformou-a num inferno. Marte, um mundo com tanta terra quanto a própria Terra. Um cinturão de asteróides rochosos, circula o Sol entre as órbitas de Marte e Júpiter. Com suas quatro luas gigantes e dúzias de luas menores, Júpiter é quase um Sistema Solar próprio. Tem mais massa do que todos os outros planetas juntos.
A Grande Mancha Vermelha de Júpiter. Um furacão três vezes maior do que nosso planeta em plena fúria há séculos.
A joia da coroa do nosso Sistema Solar: Saturno. Cercado por três arcos de incontáveis partículas de gelo em órbita. Cada partícula de gelo é uma pequena lua.
Urano e Netuno. Os planetas mais distantes. Desconhecidos dos antigos e que só foram descobertos após a invenção do telescópio.



Além dos planetas mais distantes existem dezenas de milhares de mundos congelados. E Plutão é um deles.



De todos os nossos veículos espaciais esta é que a chegou mais longe: a Voyager 1.



Ele carrega uma mensagem para daqui a um bilhão de anos. Um pedaço do que éramos dos nossos sentimentos e da música que criamos.

As maiores profundezas desse vasto oceano cósmico e dos mundos inumeráveis estão pela frente. Daqui de fora, o Sol parece uma estrela qualquer mas ainda exerce sua gravitação em um trilhão de cometas congelados.
Restos da formação do Sistema Solar há aproximadamente 5 bilhões de anos.



A "Nuvem de Oort". Ninguém nunca a viu antes, e nem poderiam porque cada um desses mundos é tão longe do seu vizinho quanto a Terra é de Saturno. Esta nuvem enorme de cometas cerca o Sistema Solar que é a segunda linha do nosso endereço cósmico.

TERRA, SISTEMA SOLAR

Só conseguimos detectar os planetas de outras estrelas há poucas décadas, mas já sabemos que existem vários planetas. São mais numerosos do que as estrelas.
Quase todos eles seriam bem diferentes da Terra e inóspitos para a vida que nós conhecemos.
Mas o que sabemos sobre a vida?
Nós só conhecemos um tipo dela: a da Terra.
Está vendo alguma coisa? Espaço vazio, não é?
O olho humano só vê uma pequena parte da luz do cosmos.
Mas a ciência nos dá o poder de ver o que nossos sentidos não enxergam.
A luz infravermelha só é visível com óculos de visão noturna.
Se colocarmos um sensor infravermelho nas trevas.
Planeta interestelar. Um mundo sem sol.



Nossa galáxia tem bilhões deles, à deriva, numa noite perpétua.
São órfãos, separados de suas estrelas-mães durante o nascimento caótico de seu sistema nativo.
Planetas interestelares tem núcleos fundidos mas superfícies congeladas.
Podem haver oceanos de água líquida entre esses dois extremos.
Sabe-se lá o que pode estar nadando ali.
Esta é a Via Láctea sob infravermelho.
Todos os pontinhos, não só os brilhantes, são estrelas.
Quantas estrelas? Quantos mundos?
Quantas formas de vida?



GALÁXIA VIA LÁCTEA
Onde estamos nessa foto?
Está vendo aquele braço? É ali que moramos.



A 30 mil anos-luz do centro.
A Via Láctea é a próxima linha de nosso endereço cósmico.
Estamos a 100 mil anos-luz da nossa casa.
A luz, a coisa mais rápida que existe levaria 100 mil anos para nos alcançar.



Esta é a grande galáxia espiral de Andrômeda a nossa vizinha.
Nós chamamos o grupo de galáxias gigantes e algumas pequenas de "Grupo Local".

TERRA, SISTEMA SOLAR
GALÁXIA VIA LÁCTEA, GRUPO LOCAL

Não dá nem para achar nossa galáxia daqui de fora.
É só mais uma dentre milhares no Super aglomerado de Virgem.
A esta escala todos os objetos que nós vemos inclusive os menores pontos, são galáxias.



Cada galáxia contém bilhares de sóis e incontáveis mundos.
Mesmo assim, o Super aglomerado de Virgem inteiro forma somente uma pequena parte do nosso universo.




Este é o cosmos na maior escala que conhecemos.
Uma rede de cem bilhões de galáxias.
É a última linha do nosso endereço cósmico.
Por enquanto.

UNIVERSO OBSERVÁVEL
Universo observável? O que isso significa?
Até para nós, na nossa nave da imaginação há um limite de até onde podemos enxergar no espaço-tempo.
É o nosso horizonte cósmico.



Além desse horizonte há partes do universo que estão longes demais.
Não houve tempo o bastante nos 13,8 bilhões de anos do universo para a luz deles nos alcançar.
Muitos de nós suspeitam que tudo isso todos os mundos, estrelas, galáxias e aglomerados no nosso universo observável não passam de uma bolha minúscula num oceano infinito de outros universos. Um multiverso.



Universo sobre universo.
Mundos sem fim.
Está se sentindo pequeno?
No contexto do cosmos, nós somos pequenos.
Somos homenzinhos morando num grão de poeira flutuando numa imensidão desconcertante.
Mas não pensamos pequeno.
Esta perspectiva cósmica é relativamente nova.
Meros quatro séculos atrás nosso mundinho não fazia ideia do alcance do cosmos.
Não havia telescópios.
O universo era só o que se podia ver a olho nu.
Em 1599 todos "sabiam" que o Sol, os planetas e as estrelas eram só luzes no céu que giravam em torno da Terra e que éramos o centro do nosso pequeno universo.
Um universo feito para nós.
Só havia um homem no planeta todo que imaginava um cosmos infinitamente maior.
E como ele passou a véspera do ano-novo de 1600?
Preso, claro.
Tem uma época na nossa vida em que percebemos que não somos o centro do universo e que pertencemos a algo muito maior do que nós.
Faz parte do amadurecimento. E assim como acontece com cada um de nós aconteceu também com a nossa civilização, no século 16.
Imagine um mundo antes dos telescópios em que o universo era só o que se via a olho nu. Era "óbvio" que a Terra não se movia e que tudo nos céus, o Sol, a Lua, as estrelas, os planetas giravam em torno de nós.
Então, um astrônomo e padre polonês chamado Copérnico fez uma proposta radical: a Terra não era o centro. Era só mais um planeta e, assim como eles girava em torno do Sol.
Muitos, como o protestante Martinho Lutero consideravam essa ideia uma afronta às Escrituras. Estavam horrorizados. Porém, para um homem Copérnico não tinha ido longe o bastante. Seu nome era Giordano Bruno e era um rebelde nato.
Ele ansiava sair daquele pequeno universo. Mesmo quando era monge em Nápoles era um peixe fora d'água. Nessa época, não havia liberdade de pensamento na Itália.
Mas Bruno queria saber tudo sobre a criação de Deus. Ele ousou ler os livros banidos pela Igreja. E essa foi a sua desgraça.
Em um deles, um romano antigo um homem que estava morto há mais de 1500 anos falava de um universo maior. Um universo tão sem limites quanto sua definição de Deus.
Lucrécio pedia ao leitor para se imaginar à beira do universo atirando uma flecha para fora dele. Se a flecha continuar, então o universo é maior do que você imaginava ser a beira. Mas se a flecha não continuar e, digamos, bater num muro então esse muro fica além da beira que você imaginava. Se você subir nesse muro e atirar mais uma flecha
você tem as mesmas duas possibilidades: ou ela ficará para sempre no espaço ou baterá numa fronteira na qual você pode subir e atirar outra flecha.



De qualquer forma, o universo não tem limites.
O cosmos deve ser infinito.
Isso fez sentido para Bruno.
O deus que ele adorava era infinito logo, pensava ele, como poderia sua criação não o ser?
Foi o último emprego fixo que ele teve.
Então, aos 30 anos ele teve a visão que selou seu destino. Neste sonho, ele acordou num mundo dentro de uma tigela de estrelas. Este era o cosmos da época de Bruno.
Ele vivenciou um momento repugnante de medo como se o chão estivesse se desfazendo mas conseguiu criar coragem. Eu abri minhas asas e subi confiante para o espaço flutuando através do infinito, deixando para trás o que outros se esforçavam para ver de longe. Aqui, não havia cima nem baixo, nem beira, nem centro.
Eu vi que o Sol era só mais uma estrela e que as estrelas eram outros sóis, cada uma acompanhada de outras Terras, como a nossa.
A revelação dessa imensidão foi como se apaixonar.
Bruno tornou-se um evangelista espalhando o "evangelho do infinito" pela Europa.
Imaginava que outros amantes de Deus abraçariam naturalmente essa visão mais gloriosa da Criação. Como eu fui idiota!



Ele foi excomungado pela Igreja em seu país natal, expulso pelos calvinistas da Suíça e pelos luteranos alemães.
Bruno aceitou dar uma palestra em Oxford, na Inglaterra. Enfim, pensou ele, uma chance de compartilhar sua visão com uma plateia de colegas.
Eu vim apresentar uma nova visão do cosmos.
Copérnico tinha razão de achar que nosso mundo não era o centro do universo.
A Terra gira em torno do Sol.
É um planeta, como qualquer outro.
Mas Copérnico era só a aurora eu lhes trago o nascer do sol!
-Ultrajante!
-As estrelas são outros sóis feitas da mesma substância que a Terra.
E eles têm suas próprias Terras aquosas com plantas e animais tão nobres quanto os nossos.
Você é louco ou simplesmente ignorante?
Todos sabem que só existe um mundo!
O que todos sabem está errado!
Nosso Deus infinito criou um universo sem limites com um número infinito de mundos!
Vocês não leem Aristóteles no seu país? Ou até mesmo a Bíblia? Imploro: rejeitem antiguidade, tradição, fé e autoridade!
Vamos recomeçar por duvidar do que achávamos ter sido provado.
-Herege!
-Infiel!
Ou Deus é pequeno demais!
Um homem mais sábio teria aprendido a lição. Mas Bruno não era assim. Ele não conseguia manter sua visão do cosmos para si mesmo.
Apesar do fato que a pena por fazer isso no mundo dele era a forma mais perversa de punição cruel e incomum.
Na época de Giordano Bruno não havia separação de Igreja e Estado e liberdade de expressão não era um direito sagrado. Expressar uma ideia diferente da crença tradicional tinha consequências terríveis.
Irresponsavelmente, Bruno voltou à Itália. Vai ver ele sentiu saudades de casa mas ele deveria saber que seu país era um dos lugares mais perigosos da Europa para ele.
A Igreja Católica tinha um sistema de tribunais conhecido como "Inquisição".
Seu único propósito era investigar e atormentar todos os que ousavam pensar diferente deles.Não demorou muito até Bruno cair nas garras da "polícia do pensamento".Este nômade que adorava um universo infinito ficou confinado por oito anos.
Apesar de interrogatórios inexoráveis ele se recusava a renunciar aos seus ideais.
Por que a Igreja se esforçava tanto para atormentar Bruno?
Do que eles tinham medo?
Se Bruno estivesse certo os livros sagrados e a autoridade da Igreja estariam abertos a questionamentos. Finalmente, os cardeais da Inquisição deram o veredito.
Você foi considerado culpado de questionar a Trindade e a divindade de Jesus Cristo de crer que a ira de Deus não é eterna e que, portanto, todos seriam salvos de declarar a existência de outros mundos.
Todos os livros que você escreveu serão queimados na Praça de São Pedro.
Reverendíssimo padre, os oito anos de confinamento deram-me muito tempo de refletir.
Então, você se arrepende?
Meu amor e reverência pelo Criador inspira em mim a visão de uma criação infinita.
Você vai ser entregado para o governador de Roma para sofrer a punição apropriada para aqueles que não querem se arrepender. Talvez você esteja com mais medo de entregar esse julgamento do que eu de ouvi-lo.
Bruno foi queimado vivo em praça pública.



Dez anos depois do martírio de Bruno Galileu olhou por um telescópio pela primeira vez e viu que Bruno sempre teve razão. A Via Láctea era feita de infinitas estrelas invisíveis a olho nu e algumas daquelas luzes no céu eram outros mundos.
Bruno não era nenhum cientista. Sua visão do cosmos foi um palpite porque ele não tinha evidências. Como muitos palpites, ele poderia ter errado. Mas assim que a ideia foi propagada deu a outros um alvo a se mirar, nem que fosse para refutá-la.
Bruno olhou a vastidão do espaço mas ele não fazia ideia da imensidão desconcertante do tempo.
Como podemos nós, que raramente vivemos mais de um século alcançar a vasta extensão de tempo que é a história do cosmos?
O universo tem 13,8 bilhões de anos.
Para imaginar todo o tempo cósmico vamos reduzi-lo a um ano de calendário.



O calendário cósmico começa em 1º de janeiro, o nascimento do universo.
Aqui temos tudo o que aconteceu desde então, até agora o que, neste calendário, é a meia-noite de 31 de dezembro.
Nesta escala, cada mês representa mais ou menos um bilhão de anos.
Cada dia representa quase 40 milhões de anos.
Vamos voltar o máximo que podemos até o primeiríssimo momento do universo.
Dia 1º de janeiro. O Big Bang.
É o tempo mais antigo que podemos ver.
Por enquanto.
Nosso universo todo nasceu de um ponto menor do que um único átomo.
O próprio espaço explodiu num fogo cósmico lançando a expansão do universo e dando início a toda a energia e toda a matéria que conhecemos hoje.
Eu sei que parece loucura mas há evidências fortes dando apoio à Teoria do Big Bang. Entre elas, o tanto de hélio no cosmos e o brilho de ondas de rádio que restaram da explosão.
Conforme se expandia, o universo resfriava e foi trevas por 200 milhões de anos.
A gravidade juntava gases e os aquecia até as primeiras estrelas nascerem no dia 10 de janeiro.
No dia 13 de janeiro estas estrelas formaram as primeiras pequenas galáxias.
Estas se juntaram para formar galáxias maiores Inclusive a nossa Via Láctea que se formou há uns 11 bilhões de anos no dia 15 de março do ano cósmico.
Centenas de bilhares de sóis.
Qual deles é o nosso?
Ele ainda não nasceu.
Ele nascerá das cinzas de outras estrelas.
Está vendo essas luzes brilhando feito paparazzi?



Cada uma delas é uma supernova a morte ardente de uma estrela gigante.Estrelas morrem e nascem em lugares assim um berçário estelar. Elas se condensam como gotas de chuvas de nuvens gigantes de gás e poeira. Elas esquentam tanto que os núcleos dos átomos se fundem profundamente para fazer o oxigênio que respiramos o carbono dos nossos músculos, o cálcio dos nossos ossos o ferro do nosso sangue, tudo isso foi criado nos corações ardentes de estrelas mortas.
Você, eu, todo mundo.
Nós somos feitos de poeira das estrelas.
Essa "poeira" é reciclada e enriquecida repetidamente através de gerações de estrelas.



Quanto tempo até o nascimento do nosso sol?
Bastante tempo. Ele só vai começar a brilhar daqui a 6 bilhões de anos. Nosso sol nasce em 31 de agosto, no calendário cósmico. Há 4,5 bilhões de anos. Assim como os outros mundos do nosso Sistema a Terra foi formada de um disco de gás e poeira
orbitando o Sol recém-nascido. Repetidas colisões produziram uma bola crescente de detritos.
Está vendo aquele asteroide? Esse aí, não. Aquele outro ali. Nós existimos porque a gravidade do asteroide vizinho desse desviou-o um centímetro para a esquerda. Que diferença faria um centímetro na escala do Sistema Solar?
Espere só. Você já vai ver.
A Terra levou uma surra no primeiro bilhão de anos. Fragmentos de detritos colidiram e se aglutinaram até formarem a nossa lua.



A Lua é uma lembrancinha dessa era violenta. Se você estivesse na Terra dessa época a Lua seria mil vezes mais brilhante. Ela ficava dez vezes mais próxima presa num abraço gravitacional muito mais íntimo. Conforme a Terra foi esfriando, mares foram se formando. As marés eram mil vezes mais fortes.
Com o passar das eras a fricção das marés foi afastando a Lua.
A vida começou mais ou menos aqui no dia 21 de setembro há 3,5 bilhões de anos no nosso pequeno mundo.
Ainda não sabemos como a vida começou. Pode até ter vindo de outra parte da Via Láctea. A origem da vida é um dos maiores mistérios da ciência.



Essa é a vida se criando evoluindo todas as receitas bioquímicas para suas atividades incrivelmente complexas.
No dia 9 de novembro, a vida respirava mexia-se, comia, respondia ao seu ambiente.
Devemos muito àqueles micróbios pioneiros.
Ah, sim, mais uma coisa: eles também inventaram o sexo.
O dia 17 de dezembro foi um dia e tanto. A vida marinha sofreu uma guinada explodindo com uma diversidade de plantas e animais maiores.
O Tiktaalik foi um dos primeiros a tentar a vida na terra. Deve ter sido como visitar outro país.
Florestas, dinossauros, pássaros, insetos, todos evoluíram na última semana de dezembro.
A primeira flor floresceu no dia 28 de dezembro. Conforme estas florestas antigas cresciam e morriam e caíam para debaixo da terra seus restos se transformaram em carvão. Trezentos milhões de anos depois nós queimamos esse carvão para dar poder e pôr em perigo nossa civilização.
Lembra-se daquele asteróide na formação do Sistema Solar?
O que foi desviado um pouco para a esquerda?
Lá vem ele.
São 6h24 da manhã, no dia 30 de dezembro no calendário cósmico. Há mais de 100 milhões de anos, dinossauros dominavam a Terra e nossos ancestrais, pequenos mamíferos escondiam-se, com medo. O asteroide mudou isso tudo. Se ele não tivesse sido desviado não teria atingido a Terra. Os dinossauros poderiam ainda estar vivos e nós, não.
É um bom exemplo da contingência extrema, da natureza acidental, da existência.

O universo já tem mais de 13,5 bilhões de anos e ainda nenhum sinal de nós. No vasto oceano de tempo que este calendário representa nós só evoluímos dentro da última hora do último dia do ano cósmico.
São 23 horas, 59 minutos e 46 segundos. Nossa história documentada só ocupa os últimos 14 segundos e todas as pessoas de que você já ouviu falar viveu nesta pequena época. Todos os reis e batalhas, migrações e invenções, guerras e amores, tudo o que existe nos livros de História aconteceu nos últimos segundos do calendário cósmico.



Mas para explorar um momento tão breve no tempo cósmico teremos que mudar de escala. Nós somos novos no cosmos. A nossa história só começa na última noite do ano cósmico.
São 21h45, na véspera de ano-novo. Há 3,5 milhões de anos nossos ancestrais, os seus e os meus deixaram estes rastros.



Nós nos levantamos e seguimos outro caminho. Assim que viramos bípedes nossos olhos não estavam mais voltados ao chão. Agora, nós somos livres para olhar para cima e imaginar. Pela maior parte da existência humana digamos, pelas últimas 40 mil gerações éramos nômades, vivendo em bandos de caçador-coletores. Fazendo ferramentas, controlando o fogo dando nomes às coisas.
Tudo isso durante a última hora do calendário cósmico.
Para descobrir o que vem depois teremos que mudar de escala para ver o último minuto da última noite do ano cósmico.
São 23h59. Somos tão jovens na escala de tempo do universo que só fomos começar a pintar imagens nos últimos 60 segundos do ano cósmico meros 30 mil anos atrás.
Foi nessa época que inventamos a astronomia. De fato, todos descendemos de astrônomos. Nossa sobrevivência dependia de ler as estrelas para prever a chegada do inverno e a migração das manadas selvagens.
E então, há mais ou menos 10 mil anos começou uma revolução no nosso jeito de viver. Nossos ancestrais aprenderam a dar forma a seu ambiente domesticando plantas e animais selvagens cultivando terras e se estabelecendo.
Isso mudou tudo.  Pela primeira vez na nossa história tínhamos mais do que podíamos carregar. Precisávamos de um jeito de manter um controle.
A 14 segundos da meia-noite ou há mais ou menos 6 mil anos nós inventamos a escrita. E logo estávamos registrando mais do que punhados de grãos. A escrita nos permitia gravar pensamentos e propagá-los no espaço e no tempo. Pequenas marcações numa tábua de barro tornaram-se um modo de vencer a mortalidade.
Isso abalou o mundo.  Moisés nasceu sete segundos atrás. Buda, há seis segundos.
Jesus, há cinco.


 Maomé, há três. Não faz nem dois segundos que, pelo bem ou pelo mal as duas metades do mundo se descobriram. E foi só no último segundo do calendário cósmico que começamos a usar a ciência para revelar os segredos e leis da natureza.
O método científico é tão poderoso que em meros quatro séculos ele nos levou do primeiro uso do telescópio por Galileu a deixar nossas pegadas na Lua. Permitiu-nos a olhar através do espaço e tempo para descobrir onde e quando estamos no cosmos.
Nós somos uma maneira de o cosmos se descobrir. Carl Sagan guiou a primeira viagem de "Cosmos" uma geração atrás. Ele foi o comunicador de ciência mais bem-sucedido do séc. 20. Mas, em primeiro lugar, ele era um cientista. Carl contribuiu enormemente para o nosso conhecimento dos planetas. Ele previu corretamente a existência de lagos de metano em Titã, a lua gigante de Saturno. Ele mostrou que a atmosfera do início da Terra deve ter contido poderosos gases de efeito estufa.
Ele foi o primeiro a entender que mudanças sazonais em Marte tinham a ver com poeira transportada pelo vento. Carl foi pioneiro na busca por vida e inteligência extraterrestre. Ele teve papel principal em todas as missões para explorar o Sistema Solar durante os primeiros 40 anos da Era Espacial. Mas ele não fez só isso.


Este é o calendário de Carl Sagan, de 1975.
Quem eu era nessa época?
Eu era só um jovem de 17 anos, do Bronx que sonhava em ser cientista e, de algum jeito, o astrônomo mais famoso do mundo achou tempo de me convidar para Ithaca, Nova York para passar um sábado com ele. Eu me lembro daquele dia de neve como se fosse ontem. Ele me encontrou no ponto de ônibus e me mostrou seu laboratório na Universidade de Cornell.
Carl colocou a mão atrás de sua mesa e assinou este livro para mim.
"Para Neil, um futuro astrônomo. Carl."



No fim do dia, ele me levou ao terminal a neve estava mais forte. Escreveu o telefone de sua casa num pedaço de papel e disse: "Se o ônibus não sair, ligue para mim. Passe a noite na minha casa, com a minha família." Eu já sabia que queria ser cientista mas, naquela tarde, eu aprendi com o Carl o tipo de pessoa que eu queria me tornar. Ele estendeu a mão para mim e para vários outros inspirando muitos de nós a estudar, lecionar e fazer ciência.
A ciência é um empreendimento de cooperação abrangendo gerações. É passar a tocha de professor a aluno e a professor. Uma comunidade de mentes, estudando a antiguidade e a caminho das estrelas.



Agora, venha comigo. A nossa jornada mal começou. Semana que vem, nossa incrível jornada continua. Bem-vindos à Terra, 4 bilhões de anos atrás, mas se você quer ver "Cosmos", você tem duas opções. Este é o incrível poder de mudança de forma da Seleção Natural.

Veja seu mundo como nunca antes.
É a maior história já contada pela ciência.


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Para quem desejar assistir a série, tem disponível para download em torrente com legenda e também dublado.
Em breve postarei o EP 2 aqui!

Um comentário:

  1. Belo post.
    Cosmos é o infinito em conhecimento e nos leva a viajar mais longe do que nossa imaginação alcança. Sagan é um ícone e Tyson continua seu legado.

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