estava no blog do Stephen Kanitz, o qual tive o prazer de participar de uma apresentação, e encontrei esse excelente artigo, vejamos:
Jamais esquecerei o meu
primeiro dia de aula na Harvard Business School. No dia anterior recebemos
noventa páginas descrevendo três problemas administrativos que haviam ocorrido
anos atrás em empresas verdadeiras. Tínhamos 24 horas para tomar uma série de
decisões, utilizando as mesmas informações disponíveis à diretoria da época.
Era um problema por matéria, três matérias por dia.
O primeiro caso do dia tratava
de uma empresa controlada por dois irmãos, bem-sucedida por trinta anos, até o
dia em que um deles se desquitou e casou com uma moça vinte anos mais jovem.
Esse pequeno fato desencadeou uma série de problemas que afetavam o desempenho
da empresa. Nós éramos os consultores que teriam de sugerir uma saída. No
primeiro dia, na primeira aula, o professor entrou na sala e simplesmente
disse:
– Senhor Kanitz, qual é a sua
recomendação para esse caso?
– Por que eu?
As aulas a que eu estava acostumado
em toda a minha vida de estudante consistiam num bando de alunos ouvindo
pacientemente um professor que dominava as nossas atenções pelo resto do dia.
Simplesmente, naquele fatídico dia, eu não estava preparado quando todos
voltaram suas atenções para mim – e, pelo jeito, eu é que teria de dar a aula.
Esse sistema é conhecido por ensino
centrado no aluno, e não no professor. Tanto é que minha grande frustração
foi ter os melhores professores de administração do mundo, mas que ficavam na
maioria das aulas simplesmente calados. Curiosamente, falar em aula era uma
obrigação, e não o que em geral acontece em muitas escolas secundárias
brasileiras, em que essa atitude é passível de punição.
Outra descoberta chocante foi
constatar que a maioria dos famosos livros de administração de nada servia para
resolver aquele caso. Nenhum capítulo de Michael Porter trata especificamente
de "problemas de desquites em empresas familiares", um fato mais
comum nas empresas do que se imagina.
A maioria das decisões na vida
é de problemas que ninguém teve de enfrentar antes, e sem literatura
preestabelecida. Estamos sozinhos no mundo com nossos problemas pessoais e
empresariais. Quão mais fácil foi a minha vida de estudante no Brasil, quando a
obrigação acadêmica era decorar as teorias do passado, de Keynes, Adam Smith e
Peter Drucker, como se fossem livros de auto-ajuda para os problemas do futuro.
Durante dois anos, estudamos
mais de 1000 casos ou problemas dos mais variados tipos: desde desquites,
brigas entre o departamento de marketing e o financeiro, greves, governos
incompetentes, fusões, cisões, falências até crises na Ásia. Isso nos obrigava
a observar, destilar as informações relevantes, ignorar as irrelevantes,
ponderar as contradições, trabalhar com vinte variáveis ao mesmo tempo, testar
alternativas, formar uma decisão e expô-la de forma clara e coerente.
Estavam ensinando por meio de
uma metodologia inédita na época (1972), o que poucas escolas e faculdades
fazem até hoje: ensinar a pensar. Em nada adianta ficar ensinando como outros
grandes cérebros do passado pensavam. Em nada adianta copiar soluções do
passado e achar que elas se aplicam ao presente.
Num mundo cada vez mais
mutável, em que as inter-relações nunca são as mesmas, ensinar fatos e teorias
será de pouca utilidade para o administrador ou economista de hoje.
Ensinar a pensar também não é
tão fácil assim. Não é um curso de lógica nem uma questão de formar uma visão
crítica do mundo, achando que isso resolve a questão. Sair criticando o mundo,
contestando as teorias do passado forma uma geração de contestadores que nada
constrói, que nada sugere.
Minha recomendação ao jovem de
hoje é para que se concentre em uma das competências mais importantes para o
mundo moderno: aprender a pensar e a tomar decisões.
Stephen Kanitz
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